sábado, 24 de abril de 2010

Fantasmas do passado

Nos últimos dias tenho andado a pensar se a minha mente me anda a pregar partidas. Não, não estou a ficar louco. O que se passa é que, pela segunda vez esta semana, vi uma daquelas pessoas que, por minha vontade, seria banido da minha vista para sempre.

Podem pensar: mas isso é normal, encontrar no dia-a-dia pessoas conhecidas, entre as quais algumas que se gosta menos.

Neste caso não será tão normal, tendo em conta que a dita personagem personagem vive a quase 200 quilómetros de distância. Será que é perseguição ou algum tipo de premonição? O que é certo é que o assunto entre a minha pessoa e esta personagem ainda não está resolvido, pelo menos para mim.

Comecemos pelo princípio, às razões que levaram a este conflito. Já lá vão quatro anos (e no entanto parece que já foi há muito mais tempo).

Havia uma rapariga (há quase sempre uma rapariga que faz despoletar uma situação semelhante) que, até então, pertencia ao mesmo grupo de amigos que eu. Entre todos combinámos alugar um apartamento para férias. Como o pagamento de parte da renda tinha que ser paga antecipadamente, ficou decidido que todos contribuiríamos com uma metade do total respectivo a cada a um e, um ponto importante nesta decisão, o dinheiro dado dessa primeira 'prestação' não seria devolvido caso uma pessoa desistisse, ficando como caução, de maneira a que os outros membros não tivessem que pagar mais. O montante final seria pago apenas quando já estivéssemos na casa.

Acordo feito, todos concordámos. No entanto, poucos dias antes da viagem para o local alugado, a dita rapariga desistiu, tanto quanto sei, influenciada por alguém (com quem nem tínhamos muita ligação) que lhe disse que não deveria ir connosco. Relembrou-se o acordo estabelecido antes e eis que começa a revolta: ela queixa-se à pessoa que lhe disse para não ir, referindo que não lhe seria devolvido o dinheiro. Foi levantada então a questão sobre o que fazer: devolver-lhe ou não a caução?

O Luís foi um dos que prontamente se opôs a tal sugestão! Não era pelo dinheiro em si mas pela honra, por um acordo previamente estabelecido. Posso dizer muitos disparates ou cometer erros na vida, mas se há coisa odeio é o não cumprimento de um acordo, faltar com a palavra!

Decisão final entre os restantes membros do grupo: não há devoluções para ninguém.

Mais uma vez se pronunciou a personagem (que ainda não referi, mas que já devem ter percebido que era o namorado da rapariga). E foi então que ele cometeu um erro: ameaçar-me de morte. A mim e aos meus. E por mais que isto possa parecer infantil, encarei a ameaça como séria, tendo em conta os amigos dele, com quem eu já tinha tido algumas desavenças no passado, algumas das quais recorreram mesmo a armas para marcarem a sua vontade.

No fim as ameaças ficaram-se por isso mesmo, apenas ameaças. Mas para mim o assunto ficou por resolver. Na altura pensei confronta-lo, ver até onde iria a sua coragem. O confronto físico não me assustava e tive o cuidado tratar das coisas de modo a que amiguinhos dele não se envolvessem. Queria vê-lo "baixar a crista", "amansar". Em termos físicos eu era superior. Embora mais novo, contava já com os benefícios que recebera da natação e dos treinos diários (na altura pensava concorrer à Academia Militar): força e rapidez.

Conseguiram acalmar-me antes que algo acontecesse. O assunto esmoreceu, mas não morreu. O que mais detesto são traições, sou incapaz de perdoá-las. Este caso não é excepção: uma amizade traída, com mais um tipo que se meteu ao barulho.

Para muitos tudo isto pode parecer muito estúpido mas traições são sempre traições. Nunca devem ser esquecidas!

O facto de voltar a encontrar esta personagem, desta feita tão longe de onde deveria estar, e apenas a uns quarteirões do local onde passo a maior parte do tempo todos os dias, não me tem deixado propriamente satisfeito e faz-me recordar todos os assuntos que ficaram pendentes. Alguns destes mais graves, os quais marcaram etapas da minha vida, de tal forma que não consigo sequer falar sobre eles, embora já tenham passados mais de 10 anos desde que ocorreram.

Fantasmas do passado que regressam para me assombrar. Pensamentos que me atordoam, pesadelos que não tinha há quase 15 anos. Um acontecimento que activou outros que estavam resguardados nos recantos da memória.

Só uma coisa me irá aliviar de todos estes pensamentos. Algo que me ajudou muito no passado e há bastante tempo que não o faço: correr. Correr até não poder mais. Correr sem destino, apenas pelo prazer de exercitar as pernas, sentir o ar a bater na cara, o suor a escorrer do cabelo... A melhor forma de tranquilizar a mente e tomar as decisões correctas.

Apenas correr...

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