domingo, 4 de abril de 2010

O prazer da leitura

Acabei de ler 'A Porta dos Infernos' de Laurent Gaudé. Não é um livro mau de todo.

Comprei-o há cerca de um mês quando o encontrei nas estantes que mostram os destaques da semana do Modelo. O título chamou-me a atenção, pelo que decidi ver a contra-capa e ler a sinopse.

"A caminho da escola, levado pela mão do pai, Pippo é atingido por uma bala perdida no meio de uma refrega das máfias de Nápoles. Matteo e Giuliana, os pais, passam a viver obcecados pela vingança - mas Matteo não consegue a coragem necessária para abater Cullaccio, o responsável pela morte do seu filho."

Uma história que contenha vingança e máfias é, desde logo, tentadora. Não resisti e lá despendi cerca de dezena e meia de euros. Mais um livro para juntar aos que 'enfeitam' o meu quarto e esperam pacientemente pela sua vez para serem abertos... No entanto, nesse fim-de-semana, antes de voltar a Lisboa, sabe-se lá porque razão, decidi colocar esta obra na mochila, junto com o portátil. Tenho vários nas estantes do quarto na capital mas achei que este devia acompanhar-me. Mas não o comecei a ler e ficou a 'ganhar pó' ao lado dos outros.

Alguns dias depois emprestaram-me o 'Leopardo', de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Sinceramente, já não lia um livro há algum tempo, entre o tempo que passo no jornal e o que passo em casa na internet. Já não me lembrava do prazer da leitura. O 'Leopardo', um bom livro por sinal (fala sobre as decisões que um príncipe que é obrigado a aceitar as mudanças à sua volta, no fundo para que nada mude na sua vida), trouxe-me à lembrança a necessidade de perder mais tempo com livros e menos com o computador e os jogos.

Após ler o 'Leopardo', decidi perscrutar o que poderia seguir-se... Voltei a pegar na 'Porta dos Infernos'. A decisão estava tomada, era essa "a próxima vítima".

As primeiras páginas prendem a atenção do leitor, embora a escrita de Gaudé pareça um pouco estranha, com frases curtas e o recurso a pensamentos das personagens, e até mesmo discurso directo sem a devida indicação, quase ao estilo de José Saramago, que apenas recorre a vírgulas.

O livro começa com a preparação de uma vingança, a mutilação de outro ser humano, vê-lo perder partes do seu corpo enquanto perde sangue sobre a tumba da criança que a sua bala perdida matou. O autor da vingança, que muitos pensariam ser o pai de 'Pippo', é, no entanto, o próprio 'Pippo'. Só algumas páginas mais tarde se percebe como isto é possível, como morreu em 1980 e está ali, 21 anos mais tarde, a mutilar o autor do disparo que vitimou.

O pai que não aceitou a morte do filho mas que não foi capaz de punir o assassino deste. A viagem ao Inferno para o resgatar, trocando a sua vida pela dele.

É um livro que nos faz recordar todos entes queridos que já partiram, desperta a saudade que reside dentro de cada um.

Não vou contar mais para que tenham apenas vontade de ler a história, sem que percam o interesse.

Votos de boas leituras.

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