domingo, 25 de agosto de 2013

Pode ser o início de uma história...

O texto que se segue foi escrito há uns meses, durante o que penso ter sido um laivo de inspiração. Pode vir a ser desenvolvido no futuro ou então não... Para já, fica o que há. Espero o vosso feedback, que pode revelar-se fundamental no processo de melhoramento. ;)
 
Finalmente chegara o momento. Nada mais havia a fazer. Completara os seus propósitos de vida e era hora de abandonar este Mundo. Tinha apenas 25 anos de idade, um quarto de século, uma alma tão jovem e, no entanto, tão vivida. Os 25 anos podem ser uma boa altura para iniciar uma família, uma vida em conjunto. A sua, ao contrário, estava prestes a terminar. Conseguia escutar os passos lá fora. Passos que ele tão bem conhecia, que outrora, muitos anos antes, foram responsáveis por lhe levarem alegrias. Agora, este som, da gravilha a ser calcada, indicava que o seu carrasco se aproximava. Muitas vezes sonhara com este momento, um momento inevitável que ajudara a despoletar ao iniciar a sua vingança contra os responsáveis por lhe roubarem o que o ligava à vida. É verdade que alguns a quem tirara vida, durante a vendetta, mantinham consigo laços de sangue, mas tinham sido mortes necessárias, à excepção de uma: o seu primo. O seu companheiro de brincadeiras na infância (um tempo que parecia ter sido há muito) morrera de forma imprevista, quando ‘sentenciava’ os pais deste. Essa sim, era única morte de que se arrependia. O único erro que cometera.

Olhou em volta. A biblioteca, que fazia também as vezes de escritório da casa, estava na total escuridão. Do alto das estantes, que cobriam as paredes do chão até ao tecto, com excepção da parede do lado oeste, onde se localizava uma janela grande, agora fechada, olhavam-no centenas de livros. Lera-os todos. Desde a ‘República’ de Platão à ‘Volta ao Mundo em Oitenta Dias’ de Júlio Verne. Desde a ‘Bíblia Sagrada’ dos Cristãos ao ‘Alcorão’ dos Muçulmanos. Desde a ‘Origem das Espécies’ de Charles Darwin à ‘Teoria Especial da Relatividade’ de Einstein. Cultura literária era algo que não lhe faltava. O seu tutor, o seu muito amado avô, também ele autor de vários títulos literários, em especial nas análises económicas e mercados internacionais, desde cedo, aquando da morte dos seus pais, o incitara a entrar no mundo do conhecimento, talvez para o abstrair do mundo real, para que pudesse esquecer toda a dor, toda a tristeza que germinava no seu interior. O processo pareceu resultar, pelo menos durante alguns anos até voltar a sentir uma dor destrutiva, um vazio que nada conseguiria tapar, quando o seu mestre morreu. Morrera não. Fora assassinado! Esta sim, era a verdade. Verdade esta que descobrira e também se relacionava com o seu estado actual, de quase-morte. Lá fora, do outro lado da janela, os passos aceleravam, pisavam o solo com maior intensidade, carregando uma fúria extrema. Tinha sido ele a informar o seu futuro assassino sobre os motivos que despertariam a sua vontade de matá-lo. Matar a pessoa que cuidara dele durante sete anos, que lhe ensinara tudo quanto sabia. Mas estava previsto, desde que acolheu o seu sobrinho para se encarregar da sua educação e bem-estar... Ao longo dos sete anos zelou sempre pela segurança de quem sabia que viria a ser resppnsável por lhe tirar a vida. Se podia tê-lo matado? Podia. Muitas vezes se questionou se devia ou não fazê-lo e sempre optou por continuar a protegê-lo. Não iria repetir o que fizera quando assassinara o seu irmão… Esse momento que jamais esqueceria. O erro que o perseguiria até à tumba. Da morte dos tios não guardava remorsos. Os dois eram culpados pela morte de outros familiares, entes queridos, entre os quais estavam o seu avô, o seu pai e a sua mãe, grávida na altura, pelo que se aumentava em mais um o número de vítimas.

Os passos cessaram durante uns instantes. O seu futuro assassino parara frente à porta de acesso à casa, como que a avaliar se deveria ou não entrar. Não lhe estava guardado nenhum ataque surpresa ou armadilha, mas, e se estivesse? Ele não poderia ter a certeza de que o até então seu protector não retaliaria.


“Michael!”. A voz a chamar o seu nome denunciava, ao mesmo tempo, um misto de raiva e medo. Não lhe iria dar resposta. Não iria mexer um músculo até que os pés do seu homicida atravessassem as ombreiras que ladeavam o acesso à biblioteca. Continuaria à espera. Não havia mais a fazer. Há muito que decidira que o cadeirão do escritório seria o lugar do seu último descanso. Já que passara tantos anos (os mais felizes da sua curta existência) na biblioteca, este era o local ideal para colocar um ponto final.

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