segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Um ídolo literário chamado Bukowski

Há algum tempo, se me perguntassem quem era o meu escritor preferido diria, quase sem hesitações, Umberto Eco. 'O Nome da Rosa' é um excelente romance. Li-o há quase dez anos e já nessa altura percebia a dimensão da obra que tinha nas mãos. Eco, o eterno candidato ao Nobel da Literatura.

Mas Umberto Eco passaria a segundo plano, pelo menos para mim. No topo da lista passaria a constar Charles Bukowski. Lembro-me de quando li o seu primeiro, 'Mulheres'. Foi pouco depois de 'O Nome da Rosa', já lá vão uns 10 anos. Na altura, percebi que o livro era bom, mas não percebia a chamada 'big picture'. Não compreendia na íntegra o seu autor, o seu espírito, a sua forma irreverente de contar uma história. Por isso mesmo, como li ambos os romances com pouca diferença um do outro, classifiquei Umberto Eco como melhor escritor. Talvez também tenha sido influenciado por um ou outro comentário sobre 'O Nome da Rosa', ao passo que poucos falavam da obra de Bukowski. Agora, a minha análise é diferente. Charles Bukowski ocupa o pódio literário. O que mudou entretanto? Muita coisa mudou. Cresci em vários aspectos. Sinto-me mais maduro e compreendo melhor o olhar de Bukowski. Ao ler, recentemente, dois dos seus livros ('Pulp' e 'Hollywood'), fez-se uma certa luz na minha mente. 

Muitos já ouviram falar de Umberto Eco. Mas, afinal, quem é Charles Bukowski? 

Henry Charles Bukowski, americano de ascendência polaco-alemã, nasceu em 1920. Em criança, foi vítima de maus-tratos por parte do pai, um antigo militar alcoólico que estava constantemente desempregado. Contou ainda com vários problemas de adaptação na sociedade. Era gozado pelos outros jovens devido ao seu sotaque alemão, era tímido e sofria de dislexia. Não é, portanto, estranho que tenha enfrentado depressões e que o álcool se tenha tornado um 'amigo' inseparável.

Estudou jornalismo, como não podia deixar de ser, mas nunca concluiu o curso. Teve vários empregos, desde camionista a carteiro, sem contar com vários trabalhos temporários.

Mas o 'bichinho' da escrita estava no seu interior. Pequenos contos e poemas foram surgindo, para posteriormente surgirem publicados em jornais e revistas. Foi apenas aos 49 anos que surgiu a possibilidade de deixar de lado o trabalho nos correios e dedicar-se a tempo inteiro à produção literária.  E bem. Da sua autoria constam centenas de contos e igual número de poemas, bem como mais de 60 livros.

Mas o que me fascina em Bukowski? O que torna este escritor diferente de todos os outros? Porque é ele um mestre da literatura?

Bem, para responder a isso, preciso de falar um pouco do seu estilo literário.Charles Bukowski não tinha a preocupação de agradar ao leitor. Este é um dos factores de diferenciação em relação aos demais. Não é um Nicholas Sparks ou outros que tais, que apresentam 'lindas' histórias de amor para delícia das massas. Não. Charles Bukowski apresenta uma linguagem coloquial,obscena, mesmo obscena, por vezes. Sem os chamados 'paninhos quentes'. Aproveitava muitas vezes para criticar a sociedade e determinadas personalidades que se diziam muito distintas na época.


Na maior parte dos casos, os seus personagens são auto-biográficos. Desligados do mundo que os rodeia, alcoólicos, mulherengos, viciados no jogo, adictos ao tabaco e quase sempre escritores. No fundo, deixa simplesmente fluir os seus pensamentos, partes da sua vida através da máquina de escrever sem qualquer entrave, sem um sistema que o censure, que lhe coloque obstáculos. É por não se importar com o que os outros pensam dos seus textos, por escrever apenas porque quer, porque se sente bem, que Charles Bukowski ganha pontos e, claro, a minha admiração.


Agora sim, compreendo melhor a obra 'Mulheres', que aconselho vivamente. Como não podia deixar de ser, trata de um escritor que, depois de ter atingido alguma fama, afunda-se na penumbra e na bebida, envolvendo-se com todas as mulheres que consegue, ao mesmo tempo que viaja pelos Estados Unidos a declamar os seus poemas para ganhar algum dinheiro e assim garantir o seu sustento.

Charles Bukowski morreu aos 73 anos, em 1994. Apesar da sua vida boémia e repleta de abusos, seria a leucemia a ditar o seu fim. O cancro no sangue, esse maldito assassino silencioso. 

A capacidade de transformar adversidades e factores que são negativos para a maioria das pessoas em qualidades, ao adaptá-las ao papel, valem a Charles Bukowski um elevado destaque, o lugar cimeiro entre os escritores que mais admiro e que tenho prazer em ler. Lamentavelmente nunca foi distinguido com um Nobel. Mas, tal como referi ao início, também Umberto Eco tem várias obras de renome, várias distinções, mas o prémio máximo da literatura continua a ser para ele apenas uma miragem.

1 comentário:

  1. E o Pulp é genial apesar de toda crítica negativa! Ok, pode não ser tão incrível como outros livros do "velho safado", mas mesmo assim é um dos meus favoritos! - Artur Pirocca

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